“Nova Arqueologia” em Espanha e em Portugal

 

No passado dia 7 de Maio ocorreu na Universidade Complutense de Madrid uma Mesa Redonda sobre “Nova Arqueologia”, organizada no âmbito do projecto internacional “Arqueologia sem Fronteiras” (HAR2012-34033), coordenado por Víctor M. Fernández e Margarita Díaz-Andreu do ICREA. A convite da organização, participou no evento a Directora do MAEDS Joaquina Soares com a intervenção “‘Nova Arqueologia’ em Portugal. Tópicos para um debate”. A conferencista realizou um balanço da recepção do movimento da “Nova Arqueologia”, correlacionando esse evento com a contestação ao regime Estado Novo iniciada em 1972-73 e com a revolução de 25 de Abril de 1974, que permitiu a abertura do país ao exterior, a instituição do Regime Democrático, a criação do Poder Local. Nesse âmbito, destacou o papel de vanguarda desenvolvido pelo MAEDS (Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal), pela UNIARQ (Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa) e pelo Departamento de Pré-História da Universidade do Porto.

 

Particularmente importante para a introdução da teoria e metodologia da “Nova Arqueologia” parece ter sido o Curso Superior Livre de Antropologia Pré-Histórica  do MAEDS e a Mesa Redonda sobre Pré e Proto-História do Sudoeste Peninsular, realizada pelo mesmo museu, em 1979.

 

A concluir, Joaquina Soares afirmou que:

“Na actividade de investigação que se faz hoje é indispensável mobilizar a herança teórico-metodológica da “Nova Arqueologia” que conferiu ao nosso domínio de estudo o estatuto de práctica científica.

 

O crescente recurso à teoria económica marxista e ao pensamento materialista dialéctico  mostrou-se bastante eficiente, com ligações férteis à bem assimilada corrente de antropologia funcionalista americana. Nos trabalhos desenvolvidos na década de 90, esta postura tornar-se-ia mais evidente  e útil nas abordagens à complexidade social do III milénio BC. e em geral à arqueologia do poder.

 

A arqueologia contextualista, a par das desvantagens que aqui não trago, teve o mérito de relativizar as excessivas  certezas das abordagens processualistas.


 [...] toda a arqueologia é contemporânea e  cada sociedade constrói o seu passado, em um processo dialéctico e prospectivo. [...].

 

Em suma, [...] imaginamos o edifício do conhecimento como gigantesca espiral em movimento, onde todos os contributos contam e dão corpo a energia transformadora, pois só o “unanimismo” é entorpecedor da accão. [...]

SOARES, J. (2014) – Transformações sociais durante o III milénio AC no Sul de Portugal. O povoado do Porto das Carretas. Lisboa: EDIA, DRCAL e MAEDS, pp. 574.

 

mesaredondaAspecto do vivo debate entre arqueólogos portugueses e espanhois durante a Mesa Redonda sobre Pré e Proto-história do Sudoeste Peninsular, organizada pelo MAEDS em 1979. Pousada de Palmela.

 

mesaredondaApresentação da conferência “‘Nova Arqueologia’ em Portugal. Tópicos para um debate”, por Joaquina Soares. Ao lado, Francisco Burillo, pioneiro da arqueologia espacial na Península Ibérica.